Emergências dos principais hospitais de Porto Alegre estão em situação semelhante
Fonte: Site Zero Hora - 20 de janeiro de 2011.
Foto: Jefferson Botega |
Sentado em uma cadeira de escritório, a cabeça recostada à parede, Leo Miguel Niederle, 65 anos, está na emergência do Hospital de Clínicas Porto Alegre (HCPA) desde às 7h30min de terça-feira. Veio de Ivoti, no Vale do Sinos, com dores abaixo do abdômen.
Às 21h30min desta quinta-feira, 62 horas depois de dar entrada no setor, ainda aguardava o resultado de exames clínicos, para saber qual a doença que lhe aflige.
— Sigo esperando — balbuciou.
Leo Miguel sente dores até para falar. Às vezes, tenta dormir na cadeira, vencido pelo cansaço, apesar dos gemidos dos pacientes e do vaivém incessante de médicos e enfermeiras. Nas noites que passou na emergência, não pôde se deitar. O rosto contraído, uma lágrima escapava-lhe pelo olho esquerdo.
Quadro da saúde pública na Capital
A história de Niederle é o reflexo prático do que acontece com muitos pacientes do Sistema Único de Saúde.
Pacientes de pé, os braços conectados ao pedestal que prende a vasilha do soro. Idosos dormindo em cadeiras, enquanto aguardam o resultado de exames. Doentes graves à espera de um leito para internação há 10 dias. Macas e poltronas nos corredores. Médicos exaustos, enfermeiras se desdobrando para aliviar a sinfonia de gemidos.
O cenário não é o de uma improvisada enfermaria em tempos de guerra, mas a emergência do Hospital de Clínicas Porto Alegre (HCPA), na Capital. Na última semana, o setor entrou em alerta vermelho: poderia atender a 49 pacientes, mas a média vem oscilando entre 120 e 140.
O esgotamento pré-colapso da emergência doClínicas não é um caso isolado. Grandes hospitais que são referência para os pacientes do SUS também estão com seus atendimentos de urgência exauridos.
Maior estabelecimento público do Estado, o Hospital Conceição tinha, nesta quinta-feira, 130 doentes na emergência, cuja capacidade é para 50 vagas.
Em pleno verão, o setor do Hospital da Santa Casa de Misericórdia também está sobrecarregado. A situação é semelhante no São Lucas da PUCRS.
A causa da saturação é a mesma em todos os hospitais públicos. Faltam leitos para internação depois do atendimento emergencial. Sem vagas para a transferência, os pacientes acabam ficando nos setores.
Como as baixas são menores que os ingressos, as emergências congestionam.