Família diz que Eoísa Batista Bueno, 58 anos, aguardou três dias, mas hospital contesta
Fonte: Site Zero Hora - 10 de agosto de 2012.
A espera por um leito de UTI no Hospital Centenário foi longa demais para Eloísa Batista Bueno, 58 anos. Ela morreu por volta das 10h desta sexta-feira em São Leopoldo, no Vale do Sinos. Segundo a família, foram três dias na sala de observação do bloco cirúrgico à espera de uma vaga que poderia ter-lhe salvado a vida. O hospital contesta e diz ter cumprido acordo firmado com o Ministério Público.
Técnica em enfermagem, Eloísa morreu no mesmo hospital onde trabalhou por 30 anos. Na tarde do último domingo, ela procurou o local com dores. De acordo com a família, exames apontaram que ela tinha uma obstrução no intestino, e precisaria passar por uma cirurgia.
O procedimento foi realizado no dia seguinte, e em seguida ela iniciou o processo de recuperação no quarto. Na terça-feira, a situação se agravou. Os médicos avisaram à família que teriam de realizar uma nova cirurgia.
— Nos disseram que após a segunda intervenção algo teria se rompido, o que causou uma infecção generalizada. Disseram que o caso dela era muito grave, e que ela teria que ser internada na UTI — afirma o único filho de Eloísa, Juliano Batista Bueno, 30 anos.
Durante os dias que se seguiram, a família questionou os médicos sobre a transferência da paciente. A única resposta era de que não haviam leitos disponíveis no Centenário, e Eloísa havia sido colocada na lista da Central de Leitos do Estado. Enquanto esperava, o quadro da técnica em enfermagem se agravava, e ela já não respondia aos remédios contra a infecção.
Na manhã desta sexta-feira, a família foi informada de que Eloísa não havia resistido à espera, e foi vencida pela infecção.
— Depois que ela morreu nos disseram que haviam conseguido dois leitos em Porto Alegre e outro no próprio Centenário, mas aí não adiantava. Ela dedicou a vida inteira a trabalhar naquele hospital e morreu esperando um leito — lembra o filho.
TAC prevê compra de leito após 48 horas
Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pela direção do Hospital Centenário com o Ministério Público prevê que o hospital e a prefeitura devem comprar um leito em 48 horas em caso de falta de vagas.
A família afirma que a espera foi de quase 72 horas, já que a segunda cirurgia teria sido na terça-feira. Já a direção do Centenário diz em nota que a determinação médica de internação em uma UTI aconteceu 45 horas antes da morte da paciente, e que a segunda intervenção aconteceu na quarta-feira.
— O termo afirma que o tempo máximo de espera desses pacientes é de 48 horas. Agora, em casos de extrema urgência, em que o paciente corre risco de morrer, a compra precisa ser imediata - afirma a promotora de São Leopoldo, Débora Resende Cardozo.
Familiares de Eloísa pretendem acionar o Conselho Regional de Medicina (Cremers). De acordo com a entidade, a partir da denúncia dos familiares, uma sindicância deverá ser aberta para investigar o caso.
CONTRAPONTO
O que diz a direção do Hospital Centenário
A Administração do Hospital Centenário afirma que a paciente Eloísa Batista Bueno deu entrada no dia 6 de agosto com infecção. Com quadro de múltiplas cirurgias abdominais prévias, ela foi submetida a um procedimento cirúrgico chamado laparotomia no mesmo dia.
No dia 8, a paciente passou por outro procedimento cirúrgico, sem apresentar melhora no quadro clínico. Por volta das 15h do dia 8 a equipe médica solicitou internação em leito de UTI e cadastrou a paciente na Central de Leitos. No dia 10, às 10h50, foi registrado o óbito por sepse abdominal, conhecida como infecção generalizada.