Fonte: ABRASUS - 30 de janeiro de 2012.
No terceiro e último dia de atividades do Fórum Social Temático na Associação Brasileira em Defesa dos Usuários de Sistemas de Saúde (Abrasus), os painelistas mostraram ao público presente (cerca de 30 pessoas) que o tratamento dos dependentes químicos e doentes mentais no Brasil continua em segundo plano para os governos, dependendo, em grande parte, de ações de voluntariado e benemerência. A rede de atenção em ambas as áreas simplesmente não funciona.
O padre Vitor Hugo Gehard, estudioso das comunidades terapêuticas de recuperação de drogados, mostrou as virtudes e fraquezas destas instituições. A maioria vive na mais absoluta pobreza. “Algumas se alimentam das sobras da Ceasa”, disse. Poucas possuem quadro técnico capacitado para o trabalho. Mesmo assim, nos última década, elas salvaram uma vida por dia, graças ao seu caráter benfazejo, aos seus 4 mil voluntários e ao envolvimento das famílias.
O psiquiatra Bruno Mendonça Costa, vinculado ao Hospital São Pedro, criticou os rumos da Reforma Psiquiátrica em vigor no país. “Temos de ter instituições capazes de atender as pessoas desde a fase em que a psicose se apresenta até depois da continuidade do tratamento. E não podemos prescindir de ninguém. Isso, contudo, não corresponde à realidade”.
O sanitarista, diretor do Museu de História da medicina, Germano Bonow, relatou que o país fechou mais de 10 mil leitos psiquiátricos no mesmo período de tempo em que sua população cresceu o equivalente a todos os habitantes da Argentina. “Tudo nesta área é em número insuficiente”, protestou. Com relação à dependência química, atestou: “Não há tratamento em rede, e o maior problema é o acesso”.
Carmen Lia, vice-presidente da Abrasus, contou o trabalho desenvolvido pela Sociedade de Apoio ao Doente Mental (Sadom) desde 1978. A entidade é mantida por senhoras abnegadas que, mesmo diante das dificuldades de manutenção, auxiliam os internos do Hospital Psiquiátrico São Pedro.
O psicólogo forense uruguaio, Gustavo Alvarez, saiu impressionado. “Todos os painelistas tinham um bom nível expositivo, tocando temas importantes para a sociedade”. José Ronald, assessor do senador Wellington Dias, também elogiou os debates. “A construção de nova cultura e conduta no tocante à drogadição é fundamental, mas para isso é preciso que haja diálogo entre áreas psiquiátrica e psicoterápica, chegando às comunidades terapêuticas. Ainda estamos longe de termos resultados positivos, a sociedade viu o fracasso da limpeza na Cracolândia”, comentou.