Fonte: Site Jornal do Comércio - 26 de outubro de 2011.
Sacudir o País para mostrar aos gestores públicos que algo precisa ser feito com urgência para mudar o cenário da saúde pública no Brasil. Esse foi o mote de uma série de manifestações realizadas ontem em todo o País, organizadas pela Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Médica Brasileira (AMB).
"Vivemos uma situação caótica, estamos vendo as pessoas morrerem em filas e em corredores à espera de atendimento. É preciso sacudir o País e, ainda mais, o nosso Estado, que é o quinto mais rico e o que, vergonhosamente, menos investe em saúde", afirma o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Paulo de Argollo Mendes.
Conforme ele, 18 mil profissionais médicos atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado, sendo cerca de 1,1 mil destes em Porto Alegre. Argollo argumenta que os baixos salários pagos pelas prefeituras têm afugentado os médicos do atendimento público. "Tem prefeitura que faz concurso para fingir para a população que está preocupada com a saúde de seu município, mas oferece R$ 900,00 de salário por mês por seis horas diárias", diz. O piso nacional dos médicos definido pela Fenam é de R$ 9,2 mil para 20h semanais.
A manifestação do presidente do Simers ocorreu em um ato público realizado na tarde de ontem na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. A terça-feira foi marcada pela paralisação das atividades dos médicos que atendem pelo SUS. A paralisação, que estava programada para ocorrer em todo o País, não teve grande adesão na Capital, mas, conforme o Simers, cada médico teve seu próprio modo de alertar a população. O quadro da ausência de médicos, principalmente especialistas, na rede pública de saúde é exemplificado pelo número de reumatologistas em Porto Alegre. "Toda a rede ambulatorial pública de Porto Alegre possui dois reumatologistas. Se fossem 200 ainda seria pouco, mas são dois", observa.
A presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Sofia Cavedon, saudou a iniciativa das entidades e criticou a participação dos governos que comandaram o Estado. "No momento em que os municípios assumiram a saúde, tivemos uma omissão dos estados. Em Porto Alegre, o passivo de atendimento à população é criminoso", destacou. Conforme ela, o Rio Grande do Sul deixou de fazer uma gestão estadual da saúde, e, sem isso, a injeção de mais recursos não surtirá o efeito desejado.
Representando a Federação dos Hospitais do Estado (Fehosul), o deputado estadual Pedro Westphalen (PP) ressaltou a necessidade de mais dinheiro para o setor. "Hoje são os médicos, amanhã serão os enfermeiros, depois os técnicos. Estamos chegando a um limite. Falta investimento na saúde", enfatizou. O parlamentar também focou a fuga de profissionais do SUS como um problema. "Os médicos estão fugindo do sistema público porque não conseguem atender com dignidade. Além disso, cerca de R$ 2,00 a consulta com clínico geral e R$ 10,00 com especialista, não há como manter médicos na rede", ressaltou.
O ato também contou com a presença de representantes do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Estado, entre outras entidades.