Fonte: Site SIMERS - 19 de agosto de 2011.
A vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (SIMERS), Maria Rita de Assis Brasil, elogiou a intenção de montar um plano para reduzir a superlotação das emergências que atendem SUS na Capital, mas condicionou o sucesso da iniciativa da prefeitura de Porto Alegre à oferta de mais leitos, reforço na rede básica e ao aumento das verbas.
"Onde está o financiamento para implementar as medidas? O município, o Estado e a União vão ampliar os recursos? Sabemos que os governos federal e estadual não cumprem o mínimo constitucional", questionou a dirigente, que é também médica emergencista no Hospital Conceição, estabelecimento que dará a largada nas ações na próxima semana.
A expectativa do município é que as demais instituições (Clínicas, Santa Casa, São Lucas da PUC, Parque Belém, Vila Nova, Beneficência Portuguesa e Cardiologia) também adotem os mecanismos em breve. Todos deverão se ajustar. Maria Rita acompanhou, no final da tarde desta quinta (18), a apresentação do secretário municipal da Saúde, Carlos Henrique Casartelli, na sede da pasta, no bairro Cidade Baixa, do que está sendo chamando de Plano 100.
MAIS LEITOS
A vice-presidente do Sindicato considera que a melhoria na gestão é um ponto essencial, mas ressaltou a preocupação com práticas que podem prejudicar os pacientes. "Pessoas com enfermidades crônicas só chegam aos serviços porque não encontram o atendimento de que necessitam nos postos. Internamos muitos deles, que o secretário aponta como conduta desnecessária, porque eles não têm onde receber o tratamento", contrapôs a médica. A reação da dirigente ocorreu porque Casartelli afirmou que há uma cultura de internar casos que deveriam ser resolvidos em postos.
Para ela, um plano deve contar com garantia de mais vagas. O SIMERS aponta redução de 35% dos leitos hospitalares do SUS na Capital entre 1993 e 2011. Cerca de 3 mil vagas foram suprimidas. A presidente da Abrasus, Terezinha Alvez Borges, citou que as deficiências listadas pela SMS no anúncio foram apontadas em dossiê da entidade entregue em maio ao titular da pasta. "Na época, ele disse que estava agindo, mas até hoje não vimos nada. Será que o novo plano sai do papel?", preocupa-se a presidente da ONG que defende os direitos dos usuários.
CEM DIAS
O secretário explicou que pretende reduzir fortemente a superlotação das unidades após cem dias de implementação de medidas. Mas ele não se comprometeu com o fim da ocupação acima da capacidade. Também disse que na próxima semana terá agenda em Brasília para reivindicar mais verbas da União. "Já falamos com o Estado. A União terá de ampliar os recursos", esclareceu.
O pacote inclui, por exemplo, a agilização das altas hospitalares, redução do número de pacientes à espera de vagas de internação nas emergências (maior causa da ocupação de até três vezes a capacidade) e maior resolução da assistência ambulatorial (com maior oferta de exames e consultas com especialistas).
Casartelli apontou a criação de leitos de retaguarda nos hospitais (que não seriam novos leitos), ampliação de exames (ele não revelou em quanto) e a regulação de 100% dos leitos SUS como alicerces para buscar a redução da demanda sobre os hospitais. O Plano 100 terá um piloto no Conceição, que pretende sair de uma média diária atual de 175 pacientes internados na emergência para uma centena até dezembro.
O chefe da emergência do Hospital de Clínicas, Jeferson Pedro Piva, assinalou que sem mais leitos será muito difícil ter êxito na ação. "O problema não é de gestão interna e sim externa. A primeira coisa é ter leitos", apontou Piva. Para o chefe do serviço, os hospitais não estão lotados porque há internações equivocadas ou porque não ocorrem altas mais rápidas. "Os serviços viraram reféns das emergências, devido à grande demanda de pacientes."